Povoada


11/nov/2023 - 07/abr/2024



MUSEU AFROBRASIL EMANOEL ARAÚJO
SÃO PAULO - SP







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POVOADA - PINTURA HABITADA.
DIEGO MOURO. 


Há 35 anos, acontecia a exposição “A Mão Afro-Brasileira – Significado da contribuição artística e histórica”. A mostra foi incluída entre os eventos que celebraram os 100 anos do fim da escravidão no Brasil. A exposição foi organizada pelo artista e curador baiano Emanoel Araujo e aconteceu nas dependências do Museu de Arte Moderna de São Paulo. No mesmo ano, Araujo, notável polímata, foi também responsável pela edição do livro “Pintores Negros do Oitocentos”, de José Roberto Teixeira Leite. Num momento significativo da nossa história, estes eventos antológicos trouxeram à tona parte importante de uma produção artística e intelectual historicamente negligenciada. Ambos tinham alto grau de ineditismo, o que, aliás, denuncia o racismo estrutural que também era enfrentado pelas exposições e publicações.

Através da substanciosa produção de Diego Mouro, vemos confirmada uma tradição afrodiaspórica de bem fazer artístico e de bem fazer pintura que, entre nós, remonta ao período Colonial, e que, ao mesmo tempo, tem representantes do maior relevo em todos os momentos e movimentos da história da arte no Brasil. É, portanto, de maior importância que, 35 anos após aquela exposição histórica, o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo abrigue, em uma das suas galerias, as recentes realizações desse ainda jovem artista.

A pintura segura de Mouro sugere que ele está verdadeiramente comprometido com essa linguagem artística, valendo-se com desenvoltura dos recursos a sua disposição. Diego Mouro valoriza da tinta a óleo suas diversas qualidades, potencializando delas, por exemplo, a sua materialidade. Na sua pintura, a cor é construída paulatinamente sobre a superfície da tela e os sinais desse processo são incorporados no enredo que constrói as imagens. Disso resulta vibração que adiciona ritmo, movimento e tensão à trama apresentada e confere ao assunto averiguado um interesse ainda maior.

Existe nesta pintura, independente do seu tamanho, certa solenidade, certa monumentalidade, gravidade e mesmo imponência. Essas impressões não estão imediatamente associadas aos temas dos quais o artista se ocupa, sejam eles retratos, paisagens ou naturezas-mortas, mas essas percepções se acentuam a partir do tratamento, realmente elaborado, que Diego Mouro empresta a esses temas, que são, enfim, do seu afeto e memória individual e também dos afetos e das memórias coletivas e ancestrais.

De fato, as suas composições sensivelmente equilibradas são acentuadas por uma paleta sóbria, ora quente e terrosa, ora fria azulada, verdosa e cinzenta, mas nunca anódina ou inócua.

Por último, e não menos importante, a exposição “Povoada” celebra o muralista que o Diego Mouro também é, e tudo no panorama evocado pela mostra denuncia um tempo considerável dedicado à pesquisa que, aliada ao aguçado senso poético do artista, garante o interesse e a qualidade das imagens sedutoras que, generosamente oferecidas, capturam nossa atenção.



Claudinei Roberto da Silva
Curador





Obras




Carlúcio, 2023


óleo s/ tela
60x80cm

Gente, 2023


óleo s/ tela
100x160 cm

era assim, que eu queria que fosse a linguagem de uma coisa amada, 2023


óleo s/ tela
150x120 cm


Como a tez da manhã, 2023


óleo s/ tela
100x100cm


Acho que as águas iniciam os Pássaros, 2023


óleo s/ tela
30x24cm


Um altar pro Candeal, 2023


óleo s/ tela
90x120cm



Travessia, 2023


óleo s/ tela
30x40cm



Sobre. , 2022


óleo s/ tela
30x30cm



Refúgio, 2021


óleo s/ tela
60x80cm



Gorjeio, 2023


óleo s/ tela
60x50cm



Escurecer acende os vagalumes, 2023


óleo s/ tela
90x120cm


Homem das águas, 2022


óleo s/ tela
40x50cm



É o peixe que guia o pescador, 2022


óleo s/ tela
60x50cm



Sem título, 2023


óleo s/ tela
60x90cm



Poleca, 2022


óleo s/ tela
70x50cm



A grande noite, 2023


óleo s/ tela
60x80cm


vovó Maria de Deus
(a vó do Davi), 2023


óleo s/ tela
50x60cm








Imagens da Exposição